02/03/2016 by marioregueira

A luz nos olhos

Adaptada da original de Carl Jones – CC BY-NC 2.0

Tal e como eu o lembro, não abri o meu primeiro blogue o dia do meu aniversário, ainda que não posso negar que sempre empreguei este dia para reflectir e para fazer as contas. Quando as listas da wikipédia eram uma novidade, lembro empregá-las para recopilar todas as coisas que aconteceram um dois de março. O dia que nasceu Lou Reed e o dia que marchou Philip K. Dick, do que li em alguma parte (que não encontro e que igual nem é verdadeira) que estivera obcecado com a data desde anos atrás. Minha mãe sempre conta que escolhi nascer tarde, meia hora antes da meia noite, algo que na família sempre se relacionou com os meus impulsos noctámbulos e de festa. Também pode ser que o 3 de março, dia de nascimento de Eladio Fernández e Marino Dónega, entre outros, e dia de passamento de Pachelbel o do cânone, não me dissesse nada do ponto de vista cultural. Quem pode competir com Lou Reed ou Philip K. Dick? Bem, David Bowie. E com ambos, mas janeiro já passara e ficava muito longe.

Em qualquer caso hoje cumprem-se demasiados anos do meu nascimento e um ano da deslocação deste blogue à sua nova casa. Não nego que foi um ano difícil. Um dia estava preparando um risotto para umas meninas e escrevendo coisas indignadíssimas sobre Filgueira Valverde e ao dia seguinte, e durante muitos meses, estava participando em assembleias e entrando na tensão dos trabalhos hercúleos, com jornadas de tantas horas que fariam estremecer o velho Engels. Neste ano defendi a minha tese sobre o campo literário galego da pos-guerra, ou sobre Galaxia, dependendo das fontes. Neste ano… não posso dizer bem mais. Encontrei velhos amigos, escrevi algumas coisas, resolvi outras, tive saudades “por procuração” de Barcelona e de outro tempo mais singelo, senti saudades de muita gente e tive alguns dos dias mais estranhos da minha vida (uma tendência que, suspeito, continuará). Em certo sentido, despedi-o no domingo passado, lembrando poetas punks na Corunha, que é sempre é uma forma excelente de fechar os ciclos. Penso que tudo foi para bem, mas recebo esta idade com uma certa sensação de tempo perdido, seguramente porque foi muito o tempo o que exigiram as tarefas. Cumpro os anos que tinha meu pai a primeira vez que eu lhe perguntei os anos que tinha. E nunca esquecerei a sensação de que eram muitos, muitíssimos, demasiados.

Para outro dia ficam as reflexões devidas sobre este blogue, sobre essa cidade fantasma na que se converteu (ou na que convertemos) o blogomilho, sobre o discurso da rainha, ou sobre a literatura destes dias e o seu hipotético futuro. Hoje só quero lembrar, como fixem há muitos anos, num domínio que não levava o meu nome, a lembrança desta surpresa, desta luz da vida que teima, tanto tempo depois, em golpear os olhos.

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